O Movimento de Cursilhos de Cristandade (MCC), como sabemos, chegou ao Brasil em 1962, desde então tem levado – através da proclamação da Boa Nova e testemunho de vida – milhares de batizados à despertarem para uma mudança de rumo em suas vidas, ou seja, a conversão. O Cursilho (CUR) propriamente dito, com duração de dois ou três dias, é o “tempo forte” onde acontece: O processo de conversão que se procura iniciar ou reiniciar durante o CUR; o trabalho realizado com vistas ao surgimento de uma consciência crítica cristã nos participantes.
Percebemos que a conversão é um processo e, como tal se dará por toda nossa vida cristã. Algumas pessoas durante o encontro farão aquilo que a teologia moral chama de “opção fundamental”, ou seja, uma opção que passará a determinar totalmente sua vida, uma opção fundamental por, com e em Cristo – cristocêntrica. No entanto, muitas outras pessoas ainda necessitarão descobrir e fazer esta opção fundamental.
Para compreendermos essa problemática devemos entender como normalmente as pessoas são “tocadas” durante o encontro, ou seja, o cursilho. Num primeiro momento, digamos teológico, ocorre sua reconciliação com Deus – podemos nos lembrar que durante o plenário muitos mencionam a importância de terem se “reencontrado” com Deus pelo sacramento da reconciliação – fazendo com que se sintam acolhidos pelo Amor de Deus. Outro momento importante, este antropológico, ocorre nos grupos de trabalhos, onde se estabelece uma relação de confiança e abertura entre seus integrantes. Esta relação faz com que os integrantes do grupo compartilhem de assuntos particulares de suas vidas. Este ambiente criará um vínculo afetivo com os integrantes do grupo, que será fundamental no pós-cursilho – lembremos também que ficará notório constatar durante o plenário, na fala de cada integrante, a importância do vínculo afetivo criado nos grupos. A decorrência desse vínculo afetivo poderá, agora no póscursilho, fazer com que o neo cursilhista dê seqüência em seu processo de conversão e, que a maioria, faça a opção fundamental em Cristo. (O MOVIMENTO DE CURSILHOS DE CRISTANDADE: O Cursilho por dentro: Ambientação e esquemas, São Paulo: Ed. Palube, 2006.
Nota do autor: o termo “afetivo” não deve ser entendido como uma carência afetiva proveniente de um desodenamento emocional – embora neste contexto isso poderá ocorrer – , mas sim como um relacionamento de amizade cristã madura que pressupõe: respeito, sinceridade, doação, equilibrio, compreensão enfim, corresponda à uma amizade caritativa, misericordiosa, caridosa; este como objetivo da dimenão comnunitária no póscursilho) pós-cursilho é fundamental para o neo cursilhista, que no primeiro encontro de formação (Escola Vivencial e Núcleo de Comunidade Ambiental) espera reencontrar a mesma afetividade, ou pelo menos parte dela, daquela criada em seu grupo durante o CUR – com isso podemos entender a importância da presença dos responsaveis pelos grupos no CUR, como também de todos os cursilhistas do GED, neste que para os novos cursilhistas é o primeiro encontro no pós-cursilho.
Escutei muitas vezes pessoas dizendo que estão no MCC somente por Jesus Cristo, desculpe, mas não é somente por Ele, pois se fosse poderiam participar de qualquer outro movimento ou pastoral. Estamos no movimento por Cristo sim, mas também pelas nossas relações afetivas. Através dessas relações entramos num processo de humanização em busca da plenitude humana encarnada por Jesus Cristo. Nessas relações afetivas ou de amizade, pautadas na dinâmica de Cristo, encontramos o elemento essencial para o crescimento humano, pois nessas relações o indivíduo deixa de voltar sua atenção somente para si – embora seja necessário em alguns momentos um movimento de interiorização reflexiva –, tornando-se assim disponível para os outros – num gesto de doação –, estes que o permite existir, conhecer e se encontrar. As relações interpessoais combatem todo e qualquer tipo de auto-suficiência pessoal e, deve combater o individualismo e isolamento numa atitude de abertura ao outro. Segundo Emmanuel Mounier precursor da corrente do personalismo em meados do século XX, “...a pessoa tem que eliminar este individualismo,
nascendo um para outro, ou seja, é o “EU” em direção do “Tu” que resulta no “Nós”, assim nosso Ser se torna Amor”. Ser pessoa, portanto, é ter atitudes de doação ao outro em gestos de compreensão, generosidade e fidelidade criadora respeitando o mistério que existe em cada ser humano. Embora seja um discurso antroplógico de uma corrente filosófica, a afirmação de Mounier elucida ainda mais a necessidade que temos de nos relacionar em vista de nossa humanização. A amizade entre nós cursilhistas, nos fortalece em nossa caminhada, nela encontramos motivações para sermos melhores pessoas e, através dela vivemos uma comunidade de fé, esperança e caridade. Como é bom rever os amigos, saber como estão, contar nossas dificuldades, ouvir e falar palavras de consolo, enfim, como é bom estarmos unidos em comunidade!
Para cultivarmos essas relações amistosas necessitamos de um tempo reservado para isso, mesmo que sejam alguns minutos antes ou depois dos momentos de oração, formação ou ação; para nos motivar na difícil caminhada cotidiana. Nesse sentido viva nossas Ultréias!
Momento de avaliar e repensar nossa caminhada, mas também momento de celebrar e revigorar nossos laços de amizade, momento (Personalismo: o personalismo, surge como uma filosofia. Centrada na pessoa, o personalismo reflete sobre o ser humano – este indefinível – não como um objeto a ser dissecado, contemplado numa posição exterior, mas sim, em sua expressão livre de criação) de partilha e de alegria. As comunidades unidas são – eis um dos motivos da urgência da participação mais ativa dos jovens no MCC –, onde as pessoas se respeitam e aprendem a lidar com seus afetos desordenados em prol de um convívio fraterno. Para tanto, Jesus Cristo nos deixou exemplos de como podemos fazer isso, amai-vos uns aos outros como eu vos amei. (Jo 15,12) onde nossas atitudes devem ser em vista para o bem do próximo. Neste contexto podemos afirmar que somente nos humanizaremos, ou seja, nos tornaremos como Cristo através de nossas relações interpessoais, principalmente com a comunidade de fé, o MCC.
Assim ao valorizarmos nossas relações afetivas – dentro de um espírito cristão – através da oração, formação e ação, estaremos possibilitando aos novos cursilhistas fazerem sua opção fundamental em Cristo e para os cursilhistas mais antigos a confirmação desta opção, que nada mais é do que a adesão à realização do projeto assumido por Cristo e herdado por nós, povo de Deus, ou seja, a própria Igreja.
Fonte: BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus,Nova edição, revista, 2000.
MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. Morais: Lisboa, 1964.
MOVIMENTO DE CURSILHOS DE CRISTANDADE: O Cursilho por dentro: Ambientação e esquemas, São Paulo: Ed. Palube, 2006.
SANTO INÁCIO DE LOYOLA. Exercícios Espirituais: apresentação, tradução e notas do Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici. S.Paulo: Loyola, 2000.
Nota do autor: o termo Afetos desordenados foi utilizado por Santo Ignácio de Loyola (1491- 1556) para representar tudo que se tratava da fraquezas humanas, como a inveja, a vaidade, a concupiscência, a maledicência, etc. Para Santo Inácio estes afetos deviam ser evitados para que pudesse o homem atingir sua finalidade, realizar a Vontade de Deus.
Ademir Moreira Pereira
1º.Tesoureiro GEN