De ferrenho perseguidor dos cristãos a grande evangelizador, Paulo é,
sobretudo para estes dias de tibieza e frouxidão apostólica, a imagem ideal de
um coração enamorado da única verdade que une povos e nações, o próprio Senhor
Jesus.
(Mc 16, 15-18) - Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze
discípulos, e disse-lhes: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a
toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será
condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes:
expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes
ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as
mãos sobre os doentes, eles ficarão curados".
Celebramos hoje a conversão de São Paulo, Apóstolo dos gentios. Por
ocasião desta festa, a Liturgia nos apresenta o relato que o Evangelista Marcos
faz da última aparição de Nosso Senhor. Com efeito, pouco antes de voltar para
junto do Pai, Jesus mostrou-se uma vez mais aos Onze e deu-lhes a seguinte missão:
"Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,
15; cf. Mt 28, 19; Lc 24, 47; Jo 20, 21).
Trata-se aqui, por assim dizer, do maior milagre que a humanidade tem podido
contemplar: o milagre — e o dom — da evangelização. E é São Paulo, um
"instrumento escolhido" (At 9, 15) pelo próprio Senhor, o modelo
de todo o empenho evangelizador a que a Igreja Católica se tem entregue há
quase dois mil anos.
Antes porém de ser chamado a levar o nome de Jesus diante das nações,
Saulo de Tarso foi um ferrenho e ardoroso perseguidor dos cristãos. Respirando
ameaças e morte contra os discípulos do Senhor (cf. At 9, 1), Saulo
acreditava servir ao Deus de Israel ao exterminar aqueles novos
"idólatras" e "blasfemos" que faziam de um simples nazareno
o Rei dos judeus. Foi inclusive a seus pés que os algozes de Santo Estevão,
tomados de incontrolável raiva, depuseram os mantos a fim de apedrejar o
primeiro mártir de que se gloriaria a então nascente religião cristã (cf. At 7,
58s). E é no entanto o mesmo Cristo Jesus quem, identificando-se com os que em
seu nome padeciam injustiças e tribulações, apareceria a este jovem zeloso a
caminho de Damasco: "Saulo, Saulo", diz-lhe o Senhor, "por que
me persegues?" (At 9, 4).
A grandeza deste encontro pessoal com Cristo deveria causar-nos sempre
uma salutar admiração, pois Deus, com apenas o dar-se a conhecer àquele moço
determinado, não apenas o converte como, inclusive, de grande perseguidor o faz
muito maior evangelizador.
Todas as epístolas de Paulo — como, de resto, não
poderia deixar de ser — deixam transparecer com imensa nitidez a profunda
mudança que o Senhor operara em seu íntimo e o amor que lhe dera para, sofrendo
pelo Evangelho, anunciar a todos os povos o santo nome de Cristo: "[…]
nisto não só me alegro", escreve aos filipenses, "mas sempre me
alegrarei. Pois sei que isto me resultará em salvação" (Fl 1, 18s).
São Paulo permanece, ainda para esses nossos dias de tibieza e frouxidão
apostólica, o farol para a nossa atividade evangelizadora; ele é e sempre será
o retrato perfeito do que deve ser um coração convertido à verdade, que é
Cristo.
"Caritas Christi urget nos", a caridade do Senhor nos impele
a, por amor aos povos, levar a todas as nações o único amor que liberta, a
única verdade que ilumina, o único caminho que conduz ao Pai. Que a infinita
caridade dAquele que por nós morreu na Cruz nos inspire a, com sincero zelo e
amor entranhado pelas almas, anunciar, nas circunstâncias particulares que Deus
nos colocou, a Palavra viva descida do Céu, Cristo Salvador.
Que São Paulo
rogue por nós, pobres e pequeninos evangelizadores, e nos comunique um pouco do
ardor que o levara a atravessar continentes, a sofrer perseguições, a passar
fome, sede e frio — tudo por um único cuidado, uma única paixão: a verdade inabalável
do Evangelho.
Pe. Paulo Ricardo