sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

CARISMA E IDENTIDADE DO MOVIMENTO DE CURSILHOS DE CRISTANDADE

Para os órgãos de direção dos movimentos eclesiais, o zelo pela pureza do seu carisma e pela preservação ou resgate de sua identidade constitui uma constante preocupação. Por essa razão, achei oportuno propor, mais uma vez, à consideração e ponderação dos leitores, alguns pontos atinentes a esse assunto.

Embora em artigos anteriores eu já tenha escrito sobre “corpos estranhos no Cursilho”, o contato com nossas bases revela iniciativas e ímpetos criativos (sobretudo no CUR), que, de forma clara e indubitável, vêm agredindo, ferindo e desfigurando tanto o carisma como a própria identidade do Movimento de Cursilhos.

Tais censuráveis iniciativas – em geral pessoais – não só neutralizam um paciente e árduo trabalho por parte do GEN, no sentido de aumentar a conscientização, como também, e sobretudo, frustram as esperanças da Igreja no trabalho pastoral e de evangelização que o MCC se propõe a realizar. Afora o risco do desânimo para aqueles que, semeando a palavra, são tentados a abandonar a messe por ter caído a semente em meio aos espinhos ou num terreno pedregoso ou numa terra crestada pelo sol. Seria temeridade minha, entretanto, não ressalvar os abundantes frutos colhidos entre os que, graças a Deus, “ouvem a palavra e a põem em prática”, isto é, entre os que respeitam o carisma, preservando a todo custo a identidade do MCC.

1. Carisma. O carisma é uma força divina e renovadora, é a Graça. Como um carisma não voa, mas se encarna nas circunstâncias da história, ele constitui dons específicos que Deus concede a uma pessoa ou comunidade em benefício de outrem. No próprio conceito de carisma, na sua raiz, já vem dinamizada a necessidade do serviço. O carisma não é dado para uso pessoal. Basta buscar em São Paulo, onde vamos encontrar a dimensão genuína de carisma. Veja em 1Coríntios, 12, 7 e seguintes; em Romanos 16, 6-8, e em outras passagens igualmente significativas. Assim, cada movimento eclesial, cada comunidade no Povo de Deus, tem seu carisma próprio. Que deve ser respeitado.
Aos iniciadores do Movimento de Cursilhos – antes, Obra dos Cursilhos – e ao próprio Movimento, Deus concedeu o carisma de levar a pessoa à conversão centrada em Jesus Cristo, à consciência do amor de Deus por ela, à vivência do fundamental cristão, isto é, à vivência dos compromissos batismais, e à ação em favor do Povo de Deus que é a evangelização dos ambientes (familiar, profissional, social, etc.). Assim, tudo o que excede tais objetivos está fora do carisma do MCC.

2. Método e dinâmica. O carisma é encarnado numa realidade histórica, através do método próprio de cada movimento ou comunidade, e utiliza dinâmicas adequadas para concretizar-se.
a) O método do MCC é querigmático-vivencial. Portanto, nos Cursilhos não se faz catequese pura. Seu carisma é o anúncio vivencial de Jesus Cristo e de sua mensagem – o Evangelho – feito por testemunhas qualificadas (isto é, cristãos coerentes com sua fé). Eventual ou necessariamente, a catequese deverá ou poderá ser feita nas Escolas vivenciais do MCC. É importante frisar que a ‘testemunha qualificada’ – o mensageiro – proclamará, no cursilho, como está vivendo ou esforçando-se para viver sua vida em coerência com sua fé. O mensageiro que não o fizer, está mentindo e enganando os cursilhistas. E “a mentira tem pernas curtas”...
b) A dinâmica é o processo pedagógico pelo qual se anuncia Jesus Cristo e sua mensagem evangelizadora. No MCC existe uma dinâmica de tempo – pré-cursilho, cursilho e pós-cursilho –, uma dinâmica de transmissão do anúncio e uma dinâmica de procedimentos aprovadas em seus Encontros mundiais e em seus Estatutos. Tais dinâmicas, coerentes com seu carisma, já vêm claramente prescritas para serem assumidas por todos, sem exceção, isto é, por leigos, leigas e sacerdotes que participam do MCC, especialmente do tempo chamado CURSILHO. Dispomos de manuais, textos oficiais, etc., para orientar nossa ação evangelizadora no CUR e fora dele. Dessa forma, invencionices, criatividades ou iniciativas que ultrapassem essas prescrições, são condenáveis. Dou um exemplo. Tomei conhecimento de que em Cursilhos de determinada Diocese, inventou-se um SÀBADO DE LOUVOR, isto é, todo mundo – responsáveis e cursilhistas passam a noite louvando. E cada responsável deve fazer uma hora de vigília diante do sacrário durante toda a noite. Ora, o carisma dos Cursilhos não é o de promover “noites de louvor”, o que sem dúvida é o carisma de outros movimentos. Sejamos respeitosos para com o carisma de cada um dos diferentes movimentos, mas sejamos firmes em exigir que respeitem o carisma do MCC!

3. Identidade. No carisma do MCC, com seu método e sua dinâmica, está declarada a sua identidade, isto é, aquilo que constitui a essência do Movimento. Desprezando seu método e sua dinâmica – que podem e devem ser revisados pelos órgãos responsáveis do MCC, de acordo com as circunstancias históricas, conforme pede a Igreja ao tratar da Nova Evangelização – podemos provocar a perda de sua identidade. Assim como uma pessoa, que quando perde sua identidade torna-se um ser ‘anônimo’, também o Movimento de Cursilhos, ao perder sua identidade por conta de invencionices pessoais ou mesmo institucionais, não serve para mais nada na Igreja... A não ser para satisfazer os caprichos dos que adoram fazer a pastoral do “eu gosto” ou “eu não gosto”, do ”eu quero” ou “eu não quero”. A estes convém lembrar, com toda a caridade fraterna, que Deus continua concedendo seus carismas, e com abundância, aos homens e mulheres do nosso tempo. E aos movimentos e às novas comunidades eclesiais também. Portanto, estamos em boa companhia: os que respeitamos os carismas uns dos outros e dos diferentes movimentos eclesiais e os que, inteligentemente, sabem respeitá-los.
Pe. José Gilberto Beraldo


Pe. José Gilberto Beraldo, hoje Assessor Eclesiástico Nacional Vitalício Benemérito do GEN, vem atuando há mais de 40 anos no MCC. Foi, durante muitos anos, o Assessor Eclesiástico Nacional, e desempenhou essa mesma função durante o mandato do OMCC no Brasil. Há tempos escreve, mensalmente, uma Carta ao MCC do Brasil. Além de escrever para a revista Alavanca, tem dois livros publicados: CARTAS e DECÁLOGO DE UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO INCULTURADA.



Fonte: cursilho.org


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