Para os órgãos de direção dos movimentos
eclesiais, o zelo pela pureza do seu carisma e pela preservação ou resgate de
sua identidade constitui uma constante preocupação. Por essa razão, achei
oportuno propor, mais uma vez, à consideração e ponderação dos leitores, alguns
pontos atinentes a esse assunto.
Embora em artigos anteriores eu já tenha escrito sobre “corpos
estranhos no Cursilho”, o
contato com nossas bases revela iniciativas e ímpetos criativos (sobretudo no
CUR), que, de forma clara e indubitável, vêm agredindo, ferindo e desfigurando
tanto o carisma como a própria identidade do Movimento de Cursilhos.
Tais censuráveis iniciativas – em geral
pessoais – não só neutralizam um paciente e árduo trabalho por parte do GEN, no
sentido de aumentar a conscientização, como também, e sobretudo, frustram as
esperanças da Igreja no trabalho pastoral e de evangelização que o MCC se
propõe a realizar. Afora o risco do desânimo para aqueles que, semeando a
palavra, são tentados a abandonar a messe por ter caído a semente em meio aos
espinhos ou num terreno pedregoso ou numa terra crestada pelo sol. Seria
temeridade minha, entretanto, não ressalvar os abundantes frutos colhidos entre
os que, graças a Deus, “ouvem a palavra e a põem em prática”, isto é, entre os
que respeitam o carisma, preservando a todo custo a identidade do MCC.
1. Carisma. O carisma é uma força divina e renovadora,
é a Graça. Como um carisma não voa, mas se encarna nas circunstâncias da
história, ele constitui dons específicos que Deus concede a uma pessoa ou
comunidade em benefício de outrem. No próprio conceito de carisma, na sua raiz,
já vem dinamizada a necessidade do serviço. O carisma não é dado para uso
pessoal. Basta buscar em São Paulo, onde vamos encontrar a dimensão genuína de
carisma. Veja em 1Coríntios, 12, 7 e seguintes; em Romanos 16, 6-8, e em outras
passagens igualmente significativas. Assim, cada movimento eclesial, cada
comunidade no Povo de Deus, tem seu carisma próprio. Que deve ser respeitado.
Aos iniciadores do Movimento de Cursilhos – antes, Obra dos
Cursilhos – e ao próprio Movimento, Deus concedeu o carisma de levar a pessoa à
conversão centrada em Jesus Cristo, à consciência do amor de Deus por ela, à
vivência do fundamental cristão, isto é, à vivência dos compromissos batismais,
e à ação em favor do Povo de Deus que é a evangelização dos ambientes
(familiar, profissional, social, etc.). Assim, tudo o que excede tais objetivos
está fora do carisma do MCC.
2. Método e dinâmica. O carisma é encarnado numa realidade
histórica, através do método próprio de cada movimento ou comunidade, e utiliza
dinâmicas adequadas para concretizar-se.
a) O método do MCC é querigmático-vivencial. Portanto, nos
Cursilhos não se faz catequese pura. Seu carisma é o anúncio vivencial de Jesus
Cristo e de sua mensagem – o Evangelho – feito por testemunhas qualificadas
(isto é, cristãos coerentes com sua fé). Eventual ou necessariamente, a
catequese deverá ou poderá ser feita nas Escolas vivenciais do MCC. É
importante frisar que a ‘testemunha qualificada’ – o mensageiro – proclamará,
no cursilho, como está vivendo ou esforçando-se para viver sua vida em
coerência com sua fé. O mensageiro que não o fizer, está
mentindo e enganando os cursilhistas. E
“a mentira tem pernas curtas”...
b) A dinâmica é o processo pedagógico pelo qual se anuncia Jesus
Cristo e sua mensagem evangelizadora. No MCC existe uma dinâmica de tempo –
pré-cursilho, cursilho e pós-cursilho –, uma dinâmica de transmissão do anúncio
e uma dinâmica de procedimentos aprovadas em seus Encontros mundiais e em seus
Estatutos. Tais dinâmicas, coerentes com seu carisma, já vêm claramente
prescritas para serem assumidas por todos, sem exceção, isto é, por leigos,
leigas e sacerdotes que participam do MCC, especialmente do tempo chamado
CURSILHO. Dispomos de manuais, textos oficiais, etc., para orientar nossa ação
evangelizadora no CUR e fora dele. Dessa forma, invencionices, criatividades ou
iniciativas que ultrapassem essas prescrições, são condenáveis. Dou um exemplo.
Tomei conhecimento de que em Cursilhos de determinada Diocese, inventou-se um
SÀBADO DE LOUVOR, isto é, todo mundo – responsáveis e cursilhistas passam a
noite louvando. E cada responsável deve fazer uma hora de vigília diante do
sacrário durante toda a noite. Ora, o carisma dos Cursilhos não é o de promover
“noites de louvor”, o que sem dúvida é o carisma de outros movimentos. Sejamos
respeitosos para com o carisma de cada um dos diferentes movimentos, mas
sejamos firmes em exigir que respeitem o carisma do MCC!
3. Identidade. No carisma do MCC, com
seu método e sua dinâmica, está declarada a sua identidade, isto é, aquilo que
constitui a essência do Movimento. Desprezando seu método e sua dinâmica – que
podem e devem ser revisados pelos órgãos responsáveis do MCC, de acordo com as
circunstancias históricas, conforme pede a Igreja ao tratar da Nova
Evangelização – podemos provocar a perda de sua identidade. Assim como uma
pessoa, que quando perde sua identidade torna-se um ser ‘anônimo’, também o
Movimento de Cursilhos, ao perder sua identidade por conta de invencionices
pessoais ou mesmo institucionais, não serve para mais nada na Igreja... A não
ser para satisfazer os caprichos dos que adoram fazer a pastoral do “eu gosto”
ou “eu não gosto”, do ”eu quero” ou “eu não quero”. A estes convém lembrar, com
toda a caridade fraterna, que Deus continua concedendo seus carismas, e com
abundância, aos homens e mulheres do nosso tempo. E aos movimentos e às novas
comunidades eclesiais também. Portanto, estamos em boa companhia: os que
respeitamos os carismas uns dos outros e dos diferentes movimentos eclesiais e
os que, inteligentemente, sabem respeitá-los.
Pe. José Gilberto
Beraldo
Pe. José
Gilberto Beraldo, hoje Assessor Eclesiástico Nacional Vitalício Benemérito do
GEN, vem atuando há mais de 40 anos no MCC. Foi, durante muitos anos, o
Assessor Eclesiástico Nacional, e desempenhou essa mesma função durante o
mandato do OMCC no Brasil. Há tempos escreve, mensalmente, uma Carta ao MCC do
Brasil. Além de escrever para a revista Alavanca, tem dois livros publicados:
CARTAS e DECÁLOGO DE UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO INCULTURADA.
Fonte: cursilho.org