quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"A Palavra de Deus é viva e eficaz" (Hb 10,21)

A Palavra de Deus entrelaça-se com a história do homem e guia o seu caminho!

"Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4,4).

A "Bíblia é o Livro dos livros. É a obra mais conhecida em todo o planeta. Também conta com o maior número de traduções dentre todas as obras existentes e está presente no maior número de nações. No entanto, nem sempre nos relacionamos com ela do jeito mais ideal. Estamos no início do mês de setembro, o conhecido e celebrado Mês da Bíblia. É mais uma oportunidade para examinarmos nossa vida e vermos qual é o valor que estamos dando a este livro tão especial e tão importante para todos os que seguem a Jesus, como Caminho, Verdade e Vida.

Bíblia, testamento de amor!

Este livro é um verdadeiro testamento. E o que é um testamento? É uma carta na qual se colocam as coisas mais íntimas, mais sinceras e mais profundas. É onde se fala com o coração e são relatados os "últimos" desejos de alguém. É onde o pai "divide" os bens entre os filhos e amigos. É o meio pelo qual nós fazemos pedidos e recomendações.

A Bíblia é o Testamento de Amor, a Carta de Amor que Deus Pai deixou para toda a humanidade. É nela que nós vamos encontrar os desejos e as intenções de Deus para conosco. É nela que podemos encontrar as recomendações e os tesouros que Deus tem para nos oferecer. Se nós não abrirmos a ela e não lermos esta "Carta de Amor", não ficaremos sabendo da amizade íntima que Deus quer ter conosco "desde o nascer ao pôr-do-sol".

Pedindo sempre a luz do Espírito Santo e vencendo toda e qualquer preguiça, busquemos ler com fé o Livro Sagrado. E a cada letra, a cada palavra, vamos perceber e ouvir a Voz de Deus que fala ao nosso coração. Nenhuma pessoa consegue sobreviver sem "arroz e feijão", ou seja, sem alimento. Da mesma forma que nenhum seguidor do Senhor consegue viver sem o Alimento da Palavra. Quanto mais intimidade tiver com ela, mais intimidade terá com o próprio Senhor. E aí veremos as graças acontecerem como verdadeiros rios de Água Viva, porque a Bíblia é o grande, único e verdadeiro Testamento de Amor.

É a certeza suprema que o próprio Deus, no seu infinito amor, entende dar ao homem de todos os tempos, fazendo do seu povo a sua testemunha. É esse grande mistério da Palavra como supremo dom de Deus que o Sínodo entende adorar, agradecer, meditar, anunciar à Igreja e a todos os povos.

O homem contemporâneo mostra de tantas maneiras que tem uma grande necessidade de ouvir Deus e falar com Ele. Nota-se, hoje, entre os cristãos uma abertura apaixonada para a Palavra de Deus como fonte de vida e graça de encontro do homem com o Senhor.

Não surpreende, portanto, que a essa abertura do homem responda Deus invisível, que, “na abundância do seu amor, fala aos homens como a amigos e conversa com eles, para os convidar e os receber em comunhão com Ele”. Esta generosa revelação de Deus é um contínuo acontecimento de graça.

Em tudo isto, vemos a ação do Espírito Santo, que através da Palavra quer renovar a vida e a missão da Igreja, chamando-a a uma constante conversão e enviando-a a anunciar o Evangelho a todos os homens, “para que todos tenham a vida e a tenham com abundância” (Jo 10,10).

A Palavra de Deus tem o seu centro na pessoa de Cristo Senhor. A Igreja fez, ao longo dos séculos, uma constante experiência e reflexão do mistério da Palavra. “Que pensais ser a Sagrada Escritura senão a Palavra de Deus? É verdade que são muitas as palavras escritas pela pena dos profetas, mas a totalidade da Escritura é um único Verbo de Deus. Este único Verbo, os fiéis conceberam-no como semente de Deus, seu legítimo esposo, e, gerando-o com boca fecunda, converteram-no em sinais, ou seja, em letras, para fazê-la chegar até nós”

Maria, modelo de acolhimento da Palavra para aquele que crê.

Nalgumas culturas, o homem contemporâneo sente-se artífice e, portanto, senhor da sua história, encontrando dificuldade em aceitar que alguém se insira no seu mundo sem dialogar com ele e sem lhe dar as razões da sua presença. Tal atitude pode verificar-se, também em relação a Deus, de uma maneira muitas vezes errada, mas sempre duvidosa. Deus, porém, não podendo calar a verdade da sua Palavra, assegura ao homem que se trata sempre de uma Palavra de amigo, para o seu bem e no respeito da sua liberdade, pedindo-lhe, ao mesmo tempo, uma escuta leal que o leve a meditar. De fato, a Palavra de Deus “tem de aparecer a todo o homem como abertura para os seus próprios problemas, como resposta às suas perguntas, um alargamento aos seus valores e simultaneamente uma satisfação das próprias aspirações”. Ainda à luz da Dei Verbum, é-nos dado saber que a sua Palavra, enquanto pronunciada por Deus, se precede toda a iniciativa e palavra humana, é para abrir ao homem impensáveis horizontes de verdade e de sentido, como atestam Gen 1; Jo 1,1ss; Heb 1,1; Rom 1,19-20; Gál 4,4; Col 1,15-17. Diz São Gregório Magno: “Quando a Escritura se abaixa para usar as nossas pobres palavras, é para que das coisas que nos parecem perto nos faça subir aos poucos, como que por degraus, até à sua sublimidade”.

Desde as origens, Deus quis “abrir o caminho da salvação sobrenatural”. À luz da Escritura, podemos compreender como a sua poderosa Palavra iniciou um diálogo vivo, por vezes dramático, mas por fim vitorioso, com a humanidade, já desde o seu início e, mais tarde, na história do seu povo Israel, chegando à Revelação suprema na história de Jesus Cristo, a sua Palavra eterna feita carne (cf. Jo 1,14). Canta Santo Efrém: “Contemplava eu então o Verbo Criador e comparava-o ao Rochedo que peregrinava com o povo no meio do deserto. Sem recolher nem acumular águas, esse derramava ele sobre o povo torrentes maravilhosas. Não havia nele nenhuma água, mas dele brotavam oceanos; assim, do nada, o Verbo criou as suas obras. Feliz de quem merecer herdar o teu Paraíso! Moisés, no seu Livro, descreve a criação de toda a Natureza, para que a Natureza e o Livro dêem testemunho do seu Criador; a Natureza mediante o uso, o Livro mediante a leitura. São estes os testemunhos que vêm de todo o lado. Encontram-se em todos os tempos, estão presentes em toda a hora, mostrando ao infiel como é ingrato com o Criador”.

Relevante é a incidência pastoral desta visão da Palavra de Deus. Esta entrelaça a sua história com a história humana, faz-se história humana, pelo que a nossa história de homens não é, portanto, composta exclusivamente de pensamentos, palavras e iniciativas humanas. A Palavra de Deus deixa traços vivos na natureza e na cultura, ilumina as ciências do homem para que assumam o seu justo valor, mas por estas ela também é ajudada a pôr em evidência a sua identidade e, ao mesmo tempo, a irradiar o original humanismo que lhe pertence.(...)

À Palavra de Deus corresponde a fé do homem. A fé manifesta-se na escuta.

Sagrada Escritura é Palavra de Deus enquanto consignada por escrito sob a inspiração do Espírito Santo”. É qualificada sobretudo com dois nomes: Escritura (sagrada) e Bíblia, títulos por si já significativos, como sendo o Texto e o Livro por excelência, com uma difusão que supera os confins da Igreja.
Jesus Cristo é a Palavra de Deus feita carne, a plenitude da Revelação.

Assim a Palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão” (Is 55,11).

A Igreja nasce e vive da Palavra de Deus.

A Igreja confessa que é continuamente chamada e gerada pela Palavra de Deus. Por isso, para poder proclamá-la com amor e vigor, se coloca primeiro e constantemente “em religiosa escuta” da mesma, deixa-se interpelar e ser interiormente tocada por ela acolhe-a com fé humilde e confiante, imitando Maria, que escuta e põe em prática a Palavra (cf. Lc 1,38), e que, por isso, o Senhor constitui modelo da Igreja.

Nesta perspectiva de adesão à Palavra, a comunidade cristã encontra a Sagrada Escritura. “Com efeito, nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos e conversa com eles”. A Escritura, portanto, encontra-se no coração e nas mãos da Igreja como a “Carta que Deus enviou aos homens”, o livro de vida, objeto de profunda veneração, analogamente ao próprio Corpo de Cristo. Nela, a Igreja descobre qual é o plano que Deus tem para ela, para o mundo dos homens e das coisas. Por isso, “considera-a, juntamente com a Sagrada Tradição, como a regra suprema da sua fé”, proclama-a com vigor e encontra-a como “alimento da alma e fonte de vida espiritual”.

A Palavra de Deus, confiada à Igreja, transmite-se a todas as gerações.

Da Igreja, o cristão recebe a Bíblia; com a Igreja, lê-a e partilha o seu espírito e objetivos, procurando, assim, a finalidade suprema de todo o encontro com a Palavra, como Jesus nos ensinou: o cumprimento da vontade de Deus com uma vida de fé, de esperança e caridade no seguimento do Mestre (cf. Lc 8,19-21).

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